Livraria 18 de Abril

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A primeira prece

   

Na madrugada o homem, sequioso de aventuras, chegou ao deserto de Gila, no Novo México.

Estacionou o caminhão e iniciou a caminhada de 32 quilômetros, para se encontrar em um acampamento, com seu grupo de alunos.

O verão era implacável e o sol ardia como fogo. O professor começou a sentir que as botas não eram as ideais para aquele clima. Parou, arejou os pés, colocou outras meias, acelerou o passo, reduziu a marcha. Nada funcionou.

Ao cair da noite, chegou ao acampamento. Os pés estavam uma chaga viva. Eram bolhas e machucados o que viu quando descalçou as botas.

Apesar de tudo nada comentou com ninguém.

Dialogou com os instrutores e com os garotos. A madrugada o surpreendeu em repouso.

Quando a manhã se fez clara, veio o alarme. Um dos garotos sumira.

O professor sentiu o peso da responsabilidade, antevendo as ameaças do deserto cruel que o menino iria enfrentar. Calçou as botas outra vez e teve a impressão de estar andando sobre vidro quente. Tropeçou, arrastou os pés. Tentou pensar em algo para se distrair, esquecer a dor. Tudo em vão.

A dor foi se tornando sempre maior, insuportável.

Finalmente, ele alcançou a trilha que saía de uns arbustos e seguiu direto ao rio que descia das montanhas, através de sombrios desfiladeiros.

Ao ver a água, colocou os pés calçados dentro dela. Esperava alívio mas a sensação foi de milhares de agulhadas perfurando-lhe as bolhas.

Deixou escapar um grito estridente do peito e se jogou na água, por inteiro. A dor aumentou.

Não havia solução. Ele não conseguia mais andar e onde se encontrava, com certeza demoraria dias para ser encontrado. E o garoto? Era preciso encontrar o garoto.

Uma idéia tomou vulto em seu cérebro e ele começou a implorar, até sua voz ecoar num brado sempre mais alto:

Um cavalo. Por piedade. Preciso de um cavalo.

Depois, como um lamento, colocou toda sua alma na palavra seguinte:

Jesus!

E prosseguiu repetindo:

Jesus. Um cavalo. Jesus.

Era a primeira vez que orava.

Um cavalo apareceu. Era real. Não era alucinação. Ele o montou por toda a noite, até encontrar o garoto.

Cedo, dois vaqueiros procuraram o animal que lhes fugira, não saberiam eles dizer o porquê.

Mas o professor sabia. Sua prece fora ouvida e atendida. Por isso, emocionado, ali mesmo, pronunciou a segunda prece de sua vida: a prece da gratidão.

* * *

A oração deveria fazer parte de nossa vida.

Orar jamais deveria ser nosso último recurso, mas o primeiro a ser buscado.

A prece movimenta profundas forças que concorrem para reverter quadros enfermiços, enquanto alimenta com novo vigor a esperança e restabelece o bom ânimo.

Redação do Momento Espírita com base no artigo Minha única prece, publicado na Revista Seleções Reader´s Digest, de junho/1998.