Livraria 18 de Abril

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Nós e o Pai

   

Deus, pai amoroso e bom, para que o homem adquirisse confiança plena em Sua bondade infinita, determinou que vários anjos o acompanhassem durante a existência terrena.

Para o receber no berço, Deus empresta um anjo lirial que, aproveitando os lábios da mãezinha adorável, ensina-lhe os primeiros passos, as primeiras palavras e entre elas, ensina-o a proferir singela oração, enaltecendo o nome de Deus.

É o anjo da pureza.

Mais tarde, soletrando o alfabeto, entre as paredes da escola, surge o anjo de luz verde que, por intermédio da professora, o ensina a escrever e lhe dá a notícia de que Deus é o criador de todas as coisas.

É o anjo da esperança.

Alongam-se os anos e ele penetra na Universidade, sob cujo teto venerável é visitado por um anjo de luz dourada que, através de educadores eméritos lhe fala da glória e grandeza do Criador, utilizando a linguagem da filosofia e da ciência.

É o anjo da sabedoria.

Todavia, nessa escalada para os altiplanos do conhecimento, o homem se torna caprichoso e exigente.

Esquece os direitos dos semelhantes e deseja conquistar a atenção de Deus para si somente.

A Majestade Divina, a seu parecer, devia inclinar-se aos seus petitórios, atendendo-lhe as solicitações, sem nada oferecer de esforços para as conquistas que deseja lhe sejam dadas de graça.

E porque o Criador não se submete aos seus caprichos, começa cultivar o espinheiro da negação e da dúvida.

Por mais que se esforce o anjo dourado, rogando-lhe que reverencie o Senhor da Vida, acatando-lhe as leis e os desígnios, o homem mais mergulha na indiferença.

E quando os tormentos se tornam insuportáveis, busca um templo religioso, onde um anjo azul o socorre valendo-se de um sacerdote para recomendar-lhe a prática do trabalho e da humildade, com retidão de consciência e perseverança no bem.

É o anjo da fé.

O homem lhe registra os avisos, mas, sentindo enorme dificuldade para os exercícios da virtude, clama intimamente: Deus? Mas existirá Deus realmente? E porque razão não me oferece provas indiscutíveis do seu poder?

E assim passa o tempo...

O homem se casa, constitui família e os anjos seguem-lhe os passos, na tentativa de conduzi-lo ao Criador.

Mas, ingrato, ele mais se afasta de Deus, acreditando-se onipotente, e cada vez mais rebelde, se questiona: Deus? Existirá efetivamente Deus?

Percebendo que a existência do seu tutelado está por findar, e que sua cabeça encanecida e orgulhosa continua distante do Pai, os anjos rogam ao Senhor as bênçãos em benefício dos seus rebeldes filhos.

É quando Deus envia da glória celeste um anjo cinzento, de semblante triste e discreto.

Este não toma ninguém para comunicar-se. Ele próprio abeira-se do revoltado filho do Altíssimo, abraça-o e sopra-lhe ao coração a mensagem de que é portador...

Sentindo-lhe a presença, o homem cambaleia, deita-se e começa a reconhecer a precariedade dos bens do mundo...

Nota quão transitória é a posse dos patrimônios terrestres, dos quais não passa de usufrutuário egoísta. Observa que a sua felicidade passageira é simples sombra a esvair-se no tempo...

Nesse instante o homem medita... Medita... E, por fim, reconsidera suas atitudes e, em lágrimas de sincera e profunda compunção, qual frágil menino, dirige-se pela primeira vez, com toda a alma, ao Todo Poderoso, suplicando:

Deus de infinita misericórdia, meu Criador e meu Pai, compadece-te de mim!...

E todos se dobram diante desse mensageiro fiel do Criador.

O anjo cinzento é o anjo da enfermidade.

(Adaptação do livro: Contos Desta e Doutra Vida, cap. 5)